quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Lição nº 1: Evangelização. Proferida por D. João Alves.

Coimbra, 24 de Novembro de 2009. Instituto Universitário Justiça e Paz, 21:15h.

Convidado: D. João Alves.

Presentes: D. Albino Cleto, Edson, Jorge Bernardino, Liliana Pimental, Martinho Soares, Pe. Nuno Santos, Rui Vilão.

Síntese aproximada da sapiente lição proferida por D. João Alves:

Linha doutrinal:
O apostolado dos leigos consiste antes de mais em ser santo e ter como centro da nossa actividade Jesus Cristo. Ninguém se anuncia a si próprio mas a Jesus Cristo (já Pe. António Vieira o dizia no Sermão de Santo António aos Peixes - acrescento eu). É a Jesus Cristo que devemos anunciar. A oração, o testemunho, a formação espiritual, a participação nos sacramentos e a direcção espiritual são a alma de todo o apostolado. O apostolado não é uma actividade puramente intelectual, cerebral, argumentativa; deve brotar antes de mais do coração, iluminado pela razão. O problema dos cristãos - sobretudo dos que têm formação académica ou teológica superior - é que muitas vezes têm a fé presa na cabeça, não falam do que vivem e sentem: não deixam a fé fluir do intelecto para o coração. Sabem arengar e argumentar em prol da doutrina cristã, mas as suas palavras não passam de retórica balofa, verborreia, pois são desprovidas de vivência espiritual, ficando apenas no plano racional. (Parafraseando Anselmo Borges: acreditam que mas não acreditam quem - aduzo eu). Ora, o cristianismo não é um corpo ideológico, é uma pessoa, Jesus Cristo. Ser cristão não é a mesma coisa que pertencer à juventude socialista ou social democrata ou comunista ou a outra qualquer associação de carácter partidário, cívico ou ideológico. Logo, a Evangelização eficaz não se faz por professores exímios, vedetas, escritores notáveis, mas por aqueles que de forma humilde e apaixonada testemunham a sua fé. Só os santos podem impressionar, só uma vida de santidade pode tocar o coração dos homens.

Para pensar:
«Diz-me que densidade tem a tua vida espiritual e eu dir-te-ei a capacidade e o alcance da tua evangelização.» (sic).
«Qual foi a maior alegria que tiveste até hoje no anúncio de Jesus Cristo?» (sic.)

Linha de acção:
O cristão honestamente empenhado na acção evangelizadora está obrigado ao estudo e à meditação da Palavra de Deus. O cristão tem de ser uma pessoa especializada na Sagrada Escritura e nos textos doutrinais da Igreja, devendo conhecer pelo menos os seguintes documentos com profundidade:
O cristão deve ser espiritual e culturalmente competente. Esse é um dos maiores handicaps dos leigos, responsável por alguma da ineficácia da nossa evangelização (o mesmo Pe. António Vieira, ibid., diria que é um dos motivos pelo qual o sal não salga). A maioria dos cristãos não tem nem se preocupa em ter formação adequada para poder responder às questões do nosso tempo.

A estratégia evangelizadora não passa por uma abordagem fanática, proselitista, impositiva, ofensiva, catequética. Antes de mais, o cristão deve procurar criar empatia, gerar amizade, deve preocupar-se em causar boa impressão, deixar uma boa imagem de si: uma imagem de credibilidade, confiança, tolerância, integralidade, coerência. É extremamente importante a qualidade e a densidade do testemunho. O que impressiona as pessoas do nosso tempo são os cristãos que não se guiam pelos valores da moda, que ousam pensar e ser de modo diferente, que destoam das massas e têm uma postura crítica diante das tendências e dos monocromatismos. Só depois de criado este clima de confiança e amizade, poderá haver lugar para o anúncio catequético. Só depois faz sentido, mediante a curiosidade indagadora, defender/proclamar humildemente a nossa fé, o nosso credo, os valores evangélicos que animam a nossa vida, em suma, Jesus Cristo. Mas sempre com o cuidado e a consciência de que não somos donos da verdade. Daí a exigência de humildade, virtude que todo o cristão deve ter como primordial, a base da santidade.

Leitura aconselhada por D. João Alves:
Manuel Falcão, O Leigo. Identidade e missão.

Outras leituras sugeridas pelo F.R.A:
Pe António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes;
Dostoiévski, Os irmãos Karamázov (imperdível: um verdadeiro tratado de espiritualidade e de teologia cristã, para além de um brilhante romance - património indiscutível da humanidade).